O caminho para a auto-organização começou em 1991, quando Célia e outras pessoas se reuniram para fomentar essa atividade entre mulheres da indústria do sexo – as chamadas prostitutas; como se qualquer forma de trabalho na qual vendemos o corpo, os dedos, o cérebro, os olhos ou os ouvidos para os outros, por necessidade econômica, fosse de algum modo distinto?
“Em 1994, começamos a ajudar os usuários de drogas a se organizar. Já existia, desde 1991, uma organização de famílias de presidiários. Gabriela Silva Leite, importante líder política das prostitutas, foi à Europa em 1988 e 1989 para participar de encontros internacionais e, ao voltar, começou a organizar…”
Em 1993, o fogo da auto-organização tinha se espalhado até a extensa comunidade de travestis da Cidade Maravilhosa. Esse momento foi, de fato, uma espécie de reviravolta.
“Todos os dias da semana três mil mulheres e travestis trabalham as ruas, em vinte locais diferentes. Não temos um distrito da luz vermelha*. É mais disperso”, diz Szterenfeld. “Qual o número total de profissionais do sexo? Somente no bairro de Copacabana, estimamos que existam cinco mil. No Rio de Janeiro, diferentemente de São Paulo, não temos um sistema de cafetões. As mulheres e os travestis são independentes. Eles se organizaram assim.”
*N.T.: referência ao bairro onde as profissionais do sexo trabalham em Amsterdã.
“Por organização, quero dizer primeiro que não costumava haver nenhuma espécie de solidariedade entre eles”, relembra Szterenfeld. “Se alguém fosse vítima de um cliente, machucado, espancado ou morto, só muito raramente um deles intercederia a favor do colega. Mas agora eles ensinam uns aos outros a anotar as placas do carros que os levam para os programas. E buscam memorizar o modelo do carro, a cor e outras características de identificação…”
“Hoje em dia existe muito pouca violência oriunda dos clientes”, ela observa, “exceto contra os travestis. Mas eles estão ficando muito organizados; e não têm crianças e problemas familiares como muitas das profissionais do sexo. Poucos travestis no Brasil querem fazer uma cirurgia para mudar de sexo … apenas de cinco a dez por cento deles, no máximo, querem ser operados. E, é claro, eles já são muito audaciosos e valentes.”
sábado, 23 de maio de 2009
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