A posição política e a sabedoria estratégica de Szterenfeld e seus colegas, que se reuniram essa semana no Rio de Janeiro (leia o relato do encontro na Parte 1 dessa série, “Uma Política de Drogas a Partir da Base”) são o seguinte: eles não ficam de pires na mão ou de joelhos pedindo ou implorando às autoridades que lhes concedam pequenos refugos chamados “reforma”.
Em vez disso, eles inicialmente avaliam as necessidades dos indivíduos e lutam incansavelmente para fazer com que as autoridades assintam aos desejos e demandas genuínas de uma população cada vez mais organizada.
Para muitos que não têm experiência direta com usuários de drogas e adictos, especialmente as pessoas do “mundo desenvolvido” que confiam nas “informações” veiculadas pela mídia comercial sobre esse assunto, pode ser difícil acreditar na possibilidade de os “usuários de drogas” ou outros setores criminalizados nas margens impostas pela sociedade se organizarem. Não são os drogados, afinal de contas, pela sua própria natureza e definição, indivíduos necessariamente desorganizados? É isso o que a mídia reporta. É isso o que as autoridades dizem. É isso o que a classe médica proclama. É isso o que os professores universitários, com notáveis exceções, ensinam. É nisso que as pessoas são enganosamente levadas a acreditar.
No entanto, eis o que está acontecendo em algum lugar de um país chamado América: uma população de usuários de drogas cada vez mais organizada – usuários de drogas leves e pesadas, lícitas e ilícitas, usuários de cocaína, de álcool, de crack, de nicotina, de maconha – está se levantando, unida, e lutando por dignidade, por justiça, por liberdade, como outros grupos que a sociedade empurrou para as margens – minorias raciais, religiosas ou sexuais, assim como as mulheres e as massas – já realizaram com sucesso em algumas sociedades abertas.
Em esplêndida ironia, Célia Szterenfeld conta que sua paixão por justiça em seu país natal, o Brasil, nasceu, paradoxalmente, nos Estados Unidos, no começo e meio dos anos 80, quando ela estudava na Universidade de Columbia, em Nova York.
“Meu principal compromisso é a luta contra a epidemia da AIDS”, ela conta. “Perdi muitos amigos em Nova York nos anos 80. E agora trabalho com a sociedade civil no Brasil. Nosso trabalho é fomentar a auto-organização de grupos marginalizados.”
sábado, 23 de maio de 2009
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