Hoje comemora-se a Festa do Sagrado Coração de Jesus. Abordamos neste mês diversas edições deste magno tema e continuaremos até o final de junho.O dicionário Aurélio, no verbete “coração”, define: “Órgão muscular situado na cavidade torácica que, nos vertebrados superiores, é constituído de duas aurículas e dois ventrículos, e que recebe o sangue e o bombeia por meio dos movimentos ritmados de diástole e de sístole”.Mas, além de designar um órgão vital do corpo humano, “coração” também significa, num sentido analógico, valores de ordem moral. Assim, metaforicamente se diz: fulano tem um “coração de ouro”; sicrano tem um “coração de pedra”.No primeiro caso, significando que fulano é bondoso, generoso, etc.; no segundo, que sicrano é insensível, mesquinho, etc. Pode-se dizer também que sicrano tem o “coração aberto”, e beltrano, “coração fechado”. E assim por diante, poder-se-iam fazer inúmeras correlações simbólicas a propósito de “coração”.Na Sagrada Escritura, encontramos quase mil vezes a palavra “coração”. Apenas um exemplo extraído do Antigo Testamento: “Eu lhes darei um só coração e os animarei com um espírito novo: extrairei do seu corpo o coração de pedra, para substituí-lo por um coração de carne” (Ez 11, 19); e do Novo Testamento: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão verão Deus!”.(Mt 5, 8) Coração: símbolo do infinito amor de Deus pelos homensNosso Senhor pediu a Santa Margarida Maria Alacoque que fosse instituído o excelente costume da comunhão reparadora das primeiras sextas-feiras de cada mês.Sumamente vinculada ao símbolo que o coração representa, está a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.Em primeiro lugar, simbolizando o infinito amor de Deus pelo gênero humano: “O Sagrado Coração de Jesus faz parte de sua adorável pessoa. Entre os elementos integrantes da pessoa de Cristo, nenhum há tão apropriado como o coração para ser objeto de um culto especial. Porque simboliza a obra do amor infinito levada ao extremo, em nosso obséquio, pelo Verbo feito homem, no mistério da Encarnação e Redenção. Portanto, o culto tributado ao Sagrado Coração de Jesus é culto tributado a Jesus Cristo na qualidade de amante do homem”.(1) A encíclica de Pio XII, Haurietis Aquas (1956) — considerada por excelência o documento sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus, e leitura indispensável a respeito — foi escrita com a finalidade de expor os fundamentos teológicos desse culto, e publicada no centenário da extensão para toda a Igreja da festa litúrgica do Coração de Jesus. Esse memorável documento pontifício ensina:“O Coração do nosso Salvador reflete de certo modo a imagem da Divina Pessoa do Verbo, e, igualmente, das suas duas naturezas: humana e divina; e n´Ele podemos considerar não só um símbolo, mas também como que um compêndio de todo o mistério da nossa Redenção. Quando adoramos o Coração de Jesus Cristo, nele e por ele adoramos tanto o amor incriado do Verbo divino como o seu amor humano e os seus demais afetos e virtudes, já que um e outro amor moveu o nosso Redentor a imolar-se por nós e por toda a Igreja, sua Esposa”.(2) O primeiro e maior de todos os mandamentosA Santa Margarida se deve — com o apoio de seu diretor espiritual, São Cláudio la Colombière — a grande expansão da devoção ao Sagrado Coração de JesusUm escriba de Jerusalém, doutor da lei, perguntou a Jesus qual era o primeiro de todos os mandamentos. Eis a resposta de Nosso Senhor: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente, e com todas as tuas forças” (Mc 12, 30). Se de todo coração uma pessoa ama a Deus, estará disposta a sacrificar-se por Ele; estará pronta a combater aqueles que atacam e desprezam seus divinos ensinamentos, e tudo fará para reparar as ofensas que se fazem contra Deus.Qualquer ofensa a Ele, tomará como se fosse mais grave que uma ofensa pessoal, e desejará ardentemente consolá-lo pelo ultraje recebido.Exemplo admirável desta disposição foi a vida de Santa Margarida Maria Alacoque (1647 - 1690), enaltecida por Nosso Senhor como “discípula dileta de meu Coração”. A ela se deve — com o apoio de seu diretor espiritual, São Cláudio la Colombière — a grande expansão no século XVII, e nos seguintes, da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, principalmente sob dois aspectos: o amor e a reparação àquele Coração, ofendido pelos pecados dos homens de “coração duro”, “fechado” para a graça divina.A ela Nosso Senhor pediu (em Paray-le-Monial – França) que fosse instituído o excelente costume da comunhão reparadora das primeiras sextas-feiras de cada mês. Sobre esta grande santa mística, temos publicado diversas matérias - clique aqui - , e poder-se-ia aludir a muitas outras almas santas que difundiram atos de piedade para desagravar o Divino Coração.Um exemplo é o de uma simples menina, Jacinta, a quem Nossa Senhora, no ano de 1917, apareceu em Fátima. Com apenas 10 anos, ela já tinha uma clara noção disso. Pouco antes de seu falecimento, disse à sua prima Lúcia: “Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito, a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!”.Palavras singelas, mas que revelam o quanto uma menina inocente se abrasava de amor de Deus e se compadecia daqueles Corações ofendidos. Até mesmo católicos vivendo como se Deus não existisseO mundo atual sofre os abalos de um terrível terremoto moral. Todas as instituições da sociedade e do Estado encontram-se flageladas por profundas crises. Certamente porque o Criador e Redentor do gênero humano deixou de estar no centro das cogitações, até mesmo no centro dos corações daqueles que se dizem católicos. Ele é ultrajado de todos os modos, tendo sido destronado na sociedade neopagã de nossos dias.Como remediar essa catastrófica situação? O Papa São Pio X indicou-nos uma solução: “Se alguém pedir uma palavra de ordem, sempre daremos esta e não outra: Restaurar todas as coisas em Cristo”.Para isso, há necessidade de reentronizar o Sagrado Coração de Jesus nas almas, nas famílias, nas instituições, em todas as nações. Numa palavra: restaurar a realeza social e divina d’Aquele que é “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19, 16). Para isso, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é o remédio por excelência. “Fazei nosso coração semelhante ao vosso”Não sejamos surdos e ingratos a essa sublime devoção, correspondendo ao divino amor de Deus por nós. Como corresponder?Procurando, por exemplo, fazer tudo conforme seus divinos preceitos, e evitar tudo o que os contraria. Assim, estaremos purificando nossos corações e assemelhando-os ao Sacratíssimo Coração. Uma breve aplicação: por obra da funesta Revolução Francesa, o Rei Luís XVI foi condenado à guilhotina. Subiu ao patíbulo com toda paciência, mas quando o carrasco quis atar-lhe as mãos, num gesto enérgico ele não permitiu, dizendo que não aceitaria tal humilhação.Seu último confessor, o Pe. Edgeworth de Firmont, então disse-lhe: “Senhor, esta humilhação será ainda mais um traço de semelhança entre Vossa Majestade e Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ao que Luís XVI respondeu: “Se isso agrada a Jesus, estou pronto para ser amarrado”.Tal resposta do soberano francês poderia ser aplicada em todas as circunstâncias de nossa vida: estarmos prontos para fazer tudo o que agrada a Jesus; e nada, absolutamente nada que O desagrade. Para chegar a essa prática habitual, é muito aconselhável uma jaculatória que se encontra no final da Ladainha do Sagrado Coração: “Jesus, manso e humilde de coração. Fazei nosso coração semelhante ao vosso”.
Fonte: Catolicismo
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